30.12.09

A Teia



Dormimos versos cercados de cal
para onde quer mesmo que nos leve a malha
quando a gente se transforma em cristal
encravado na bota de um canalha.

Ó desventurados da conjuntura
pirilampos sem luz, sem prevenção
retidos na teia cor-de-toga impura
porque a mão vos furtou para a boca o pão!

Encoleirou-se o corvo com o diadema
esquecido pelo ex-compadre burguês:
não houve toga nem sequer algema
e, de súbito, a teia se desfez!

Porém, sem darmos por ela, o fermento
destas lágrimas de terebentina
entrança já tatuagens de alento
para uma teia mais pura e cristalina.


Julius Kazembe
Moçambique