Foi numa cama de folhelho,
entre lençóis de estopa suja
num pardieiro velho.
Trinta hora depois a mãe pegou na enxada
e foi riçar nas bordas dos caminhos
manadas de ervas
para a ovelha triste.
E a criança ficou no pardieiro
só com o fumo negro das paredes
e o crepitar do fogo,
enroscada num cesto de vindimeiro,
que não havia berço naquela casa.
E ninguém conta a história do menino
que não teve magos a adorá-lo,
nem vacas a aquecê-lo,
mas que há-de ter
muitos Reis da Judeia a persegui-lo;
que não terá coroas de espinhos
mas coroas de baionetas
postas até ao fundo do seu corpo.
Ninguém há-de contar a história do menino
Ninguém lhe vai chamar o Salvador do Mundo.
Álvaro Feijó