2.12.09

Natal, Natal de oitenta e oito



Um monte alto de musgo
e um atalho de areão
subindo para a noite
de dezembro.

Há sempre um pinheiro
uma grande árvore
com as raízes
e o tronco
na sombra do amor.

O lugar
onde o deus
tinha armado o seu presépio
ficava assentado
num valezinho verde de musgo e branco de
neve
e folhas mortas do inverno.

Os olhos seguiam o rio
das estrelas
e a luz fazia mistério
do claro choro daquele menino
entre vaca e burro
mulher e homem.

Contasse o segredo do coração e
haveria conversa bastante para a
voz melancólica
de um pastor
que passara a infância sem brincar
e não pudera ser alegre
nem triste.

Mas o pastor é o guarda de ovelhas,
a própria vida adentro da
floresta
o anjo, o anjo perdeu a asa no riacho
lamacento
colhendo baga vermelha de azevinho.

E o deus,
vestido de recém-nascido, lançava
lança o olhar
à voz da fria noite
e do dezembro escuro - houvesse
ou não vida de homem nele -, dá a
Roma
a razão do seu corpo
p'lo destino de nossa alma e morte.

Um monte alto de musgo
era uma sombra
era um deus
sombrio de dezembro?


João Miguel Fernandes Jorge