21.12.09

Nada / Natal



Este lume que já nos não aquece
Este medo do nada que nos ocntem
Esta névoa de nata em vez de neve
E a nossa vida cada vez mais ontem

Este Sol que não rompe sob os cactos
Estes mortos de novo hoje tão perto
É no búzio dos crânios exumados
que melhor nós ouvimos o deserto

Estas folhas de plátano Estas mãos
que o fogo vai torcendo lentamente
Esta cinza no fim de uma oração
Este sino Este céu sobrevivente

Mas soa a meia-noite E logo o nada
deixa de estar em tudo como estava


David Mourão-Ferreira