14.12.09

Noite de Natal



Na cidade, a Virgem Santa
Batera de porta em porta:
- “Daí-nos abrigo... Sofremos:
Escurece: o frio corta”.

E disse palavras novas:
Mas ninguém soube entendê-las.
Fecham-se as portas, na terra,
Como, na treva, as estrelas.

E lá foi o par bendito,
Buscar asilo entre as furnas
Onde, à aurora, se escondiam
ladrões e feras nocturnas.

Correra nas profecias,
E ali se fez verdadeiro:
Nascer em cama de lobos...
Divino e humano Cordeiro.

- Glória! Hossana! - Eis Jesus cristo
No presépio de Belém.
São José pôs-se a adorá-lo;
Adora-o a Virgem Mãe.

Entram Reis; entram pastores;
Cantam os anjos em roda.
Andam na altura as estrelas
A arrumar a sombra toda.

Cheira a rosas. Doira tudo
Um grande luar suspenso;
Balem ovelhas; seu bafo,
Parece um fumo de incenso.

E, sobre as palhas, deitado,
O Deus Menino, Jesus,
Sorri, - de braços abertos,
Lembrando a forma da Cruz...

Já no berço, - abrindo os braços, -
Lembrava a forma da cruz.


António Correia de Oliveira