Menino Jesus vestido
De quimono de brocado,
no Velho Império nascido,
Como pareces cansado...
Eu, sim, que venho da calma
E das neves dos caminhos;
Dei a volta ao mundo: a alma
Trago-a coroada de espinhos...
Mas tu, de olhinhos estreitos,
Jesus Menino dos chins,
Tu que recebes respeitos
De culis e mandarins.
Tu que derrubas os budas
Dos seus tronos levantados,
Tu tão triste? - É do Judas
Que te trai em meus pecados.
Nessa face de marfim
Quanta fadiga se encerra!
- Será da morte de mim
Ou da morte desta terra?
Vestes de preto encaranado,
Bodas de amor anuncias,
Porém o gesto magoado
Não diz senão agonias...
Emprestou-te o escultor
Sua própria e amarga sina.
Menino Jesus de dor,
Tu és a alma da China.
Maria Ondina Braga