Juro, haverá sempre em cada um,
Um marinheiro naufragado,
Portos, mulheres, até rum,
E mar sem navio e calado...
E nas noites doidas de lua,
Com algas e brisas nos olhos,
Aos bordos navegam a rua
Das flores perdidas aos molhos...
Sós, ancorados na cidade,
Com olhos de morto insepulto,
Vêem escorrer-lhes a idade,
Perdida em névoa como um vulto...
Alguns iludem no cachimbo,
O frio que já lhes demora
No outrora sonho e limbo
De uma diferente aurora...
E há o marinheiro cansado
De tão parado navegar,
Que um dia, na praia, prostrado,
Se deixa engolir pelo mar...
António Cardoso (poeta angolano)