Vimos de algures onde cantam as folhas
e no chão das flores projectamos o sono
vimos todos vimos de muito longe onde
os pássaros não são um mero adorno
e cantam cantam nós vimos de algures
cujo nome esquecemos não é sítio não
há mapa capaz perdeu-se o dicionário
a geografia e perguntar agora não ajuda
é de algures é certo é mais que certo
mas a boca da resposta é muda e vimos
com as mãos de dedos mais vazios que
uma lágrima pura um cristal perfeito
cuja beleza provém dessa estrutura interna
dessa linha que passa como um eixo entre
o presente e o tempo remoto a primavera
pode ser de onde vimos ninguém sabe
ao certo ninguém nega só sabemos que
lá cantam as folhas e no chão das flores
projectamos o sono e no sonho bebemos.
Nuno de Figueiredo