Quando eu era pequenino,
Gostava de ouvir contar
Histórias de princesinhas
Encantadas ao luar.
Havia então lá em casa
Uma criada velhinha,
A Sérgia contava histórias
- e que graça que ela tinha!
Lendas de reis e de fadas,
Inda me encheis a lembrança!
Que saudades de vós tenho,
ó meus contos de criança!
“Era uma vez...” As histórias
Começavam sempre assim;
E eu, então, sem me mexer,
Ouvia-as até ao fim.
Lembro-me ainda tão bem!
Os irmãos à minha beira,
Calados! E a boa Sérgia
Contava desta maneira:
“Era uma vez...” E depois,
Olhos fitos nos seus lábios,
Ouvia contos sem conta
De gigantes e de sábios”.
“Era uma vez...” E, por fim,
A voz da Sérgia parava...
E assim como eu te contei
Era como ela contava.
Ai! que saudade, que pena,
Que nos meus olhos tu vês!
Eu sentava-me e ela, então,
Começava: - “Era uma vez...”
Adolfo Simões Muller