E imagino que estou sentado à beira-mar:
Vejo as ondas a erguer-se, arquipélagos, mundos,
Naufrágios, temporais, mar de leite e de luar...
Medroso, o coração tenta fugir, mas treme:
O abismo atrai o abismo! E, desvairadamente,
Despenha-se no mar, como um barco sem leme,
De onda em onda, à mercê do vento e da corrente.
Vejo-a ainda um momento a esconder-se na bruma,
E sinto uma impressão de angústia e de pesar,
– Seguindo ansiosamente o seu rasto de espuma –
Por supor que partiu para não mais voltar!
Mas tu falas, e, ao som da tua voz, desperto;
Volto a mim desse estranho sonho, a alma perdida,
Com o vago terror e o pensamento incerto
Do naufrágio que à praia ainda chegou com vida.
António Feijó