O ovo revela o acabamento,
a toda mão que o acaricia,
daquelas coisas torneadas
num trabalho de toda a vida.
E que se encontra também noutras
que entretanto mão não fabrica:
nos corais, nos seixos rolados
e em tantas coisas esculpidas
cujas formas simples são obra
de mil inacabáveis lixas
usadas por mãos escultoras
escondidas na água, na brisa.
No entanto, o ovo, e apesar
da pura forma concluída,
não se situa no final:
está no ponto de partida.
João Cabral de Melo Neto (poeta brasileiro)