27.1.08


Suspiros, cuidados
Paixões de querer.
Se tomam dobrados
Meu bem, sem vos ver.

Garcia de Resende


Versos meus, alado bando

De trigueiras andorinhas,

Ide onde ela, de meu mando,

A dizer-lhe como eu ando,

A dar-lhe visitas minhas...


Oh minha aérea embaixada

Adeus, adeus, parti breve

Não dilateis a jornada.

Seja a hora da chegada

Antes do tempo da neve...


Lá tereis, à sua beira,

Luz e sol como em Agosto.

O seu olhar é fogueira

Que até a torna trigueira

E queima-lhe a pel' do rosto...


Quando a sede vos tomar,

Dizei-lhe da minha mágoa,

Contai-lhe do meu penar,

Que ela então põe-se a chorar

E bebereis essa água...


Os beijos que ela vos der

Servir-vos-ão de sustento.

Que inveja me fazeis ter...

Ai quem pudera viver

Viver do mesmo alimento!


Já bailam ao vento norte

As folhas pelos caminhos.

O frio dá-vos a morte...

Erguei–vos num voo forte,

Guie-vos Deus, passarinhos!...


Augusto Gil