24.1.08


Canção do Mestiço



Mestiço!


Nasci do negro e do branco
e quem olhar para mim
é como se olhasse
para um tabuleiro de xadrez:
a vista passando depressa
fica baralhando cor
no olho alumbrado de quem me vê.


Mestiço!


E tenho no peito uma alma grande
uma alma feita de adição
como l e l são 2.


Foi por isso que um dia
o branco cheio de raiva
contou os dedos das mãos
fez uma tabuada e falou grosso:
— mestiço!
a tua conta está errada.
Teu lugar é ao pé do negro.


Ah!
Mas eu não me danei ...
E muito calminho
arrepanhei o meu cabelo para trás
fiz saltar fumo do meu cigarro
cantei do alto
a minha gargalhada livre
que encheu o branco de calor! ...


Mestiço!


Quando amo a branca
sou branco...
Quando amo a negra
sou negro.
Pois é...



Francisco José Tenreiro (poeta sãotomense)