21.4.08


Beijo-de-Mulata


Pai:
Olho o teu rosto fechado
nas letras apagadas dessa campa
a tua
(no quadro dezasseis
do Cemitério Velho)
e não sei que mistério poderoso
me prende os olhos,

Pai!

A pedra não diz nada senão pedra.
Os beijos-de-mulata que plantaram
sobre o teu corpo
continuam florindo da tua substância.
Não surge sobre a campa
O sorriso de que dourei tua lembrança,

Pai!

Não fico mais aqui, porque estás longe.
Tudo quanto estou ouvindo e repetindo
vem de dentro de mim
de um já longínquo mundo.
Apenas levarei um beijo-de-mulata
eterna florescência do teu ser
lembrança imperecida da tristeza
que marcou o teu rosto sofredor.


Mário António (poeta angolano)