(à memória de Jacinto de Magalhães)
Aquela é a casa
Que me tem cativa
E porque nela vivo
Já não quer que viva
A casa que escrevi
Quando apenas sonhei
Que era rasa (redonda, disseste)
Envolta de água
E de barcos chãos
Baloiçando no horizonte vermelho
Mas não de sangue.
Branca por fora
Tão branca como a cal
Do Eugénio
Tão pura como as cantigas de amigo
Uma casa escrita com palavras
A cheirar a relva molhada
Que se apoderou de mim.
Ficámos em silêncio
A ouvir os ruídos da terra
De olhos fechados
Apalpando o vento
Desenhando corpos nus
Nas nossas mãos de esculpir
Afectos inefáveis.
Uma casa com perfume de versos
E de lenha
Com perfume de vinhos
E de tintas de óleo
Plena de risadas e de lágrimas
Que percorro
Indefinidamente.
Esta é a casa
Que me tem cativa
E porque nela vivo
É força que viva.
Ângela Marques