Em S. Paulo da Missão
quando o sol se apagava
na areia vermelha
(nos fundos por trás
da quitanda)
a negra Arminda abria devagar
a cancela
de madeira
e sozinha
sem ajuda de ninguém
ia no Burity ou no Sô Santo
beber.
Muitas vezes
ela 'tá ficando
tarde toda
sentada na esteira
os olhos longamente postos
no vago
contando
história do tempo antigo
em jeito de assombração.
A garotada em roda dela
escuta só
E suspensa vê
vê mesmo
correr a vida
nos olhos sem vida
da velha Arminda.
João Maria Vilanova (Angola)