Sei que a brancura dos dias é aparente
E que a noite se há-de deitar devagar
Entre nós, o oceano, o meu país cansado
E o teu, que ainda escuta ardente
Os rumores que lhe chegam do mar.
Sei que o vento que hoje sopra violento
Amanhã será brisa ou quase nada
E que as nossas vozes, que hoje cantam
Melodias ridentes, inventando sinfonias,
Hão-de ser lágrimas, como o orvalho é geada.
Sei que não crês no que te digo triste,
E me devolves um sorriso que diz que existe
Mais do que este constante movimento
Descendente na minha razão tão escura.
Sorris. Ou ris-te de mim, ainda não sei.
Mas sei que a toda esta imparável mudança
Resiste firme a tua esperança, sólida
A tua mão na minha. E que a tua voz,
Essa, nunca vacila quando a noite vem
E me anuncia a ternura sempre renovada
De um outro dia que se aproxima.
Isabel Solano