para o António
Eu tenho os dias claros
de sucessivas luas de Setembro
e a noite que me impõe sinalizar
as direcções cruzadas das mensagens verticais.
Eu estou parado no meio do terreiro
pastado dos meus passos e da minha gente,
ando a ganhar noções de translação
e a medir, pra meu governo, a cor do sol.
Eu entardeço, sobretudo, pouco atento ao vento
que não devo perturbar na sua rota alheia.
Permito, quando muito, que me sinta o cheiro
e deixo-o desfazer, furtivamente, molhos já secos de memória
fêmea.
Eu finjo que não sei de elásticas tensões da claridade
e a cada passo meu faço estalar
membranas frias que a tarde debruou em rente azul.
Entendes, companheiro,
eu estou aqui sentado e nu
a procurar não ir além da bárbara carícia
de um olhar sem tacto
e que nem uma lágrima machuque
a capa muito fina da lembrança
que tenho para dar-te.
Ruy Duarte de Carvalho
Angola
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