27.1.10

Anti-chuva



Os sonhos fedem à chuva
e os braços apodrecem
à beira dos súbitos charcos
e do frágil tornozelo dos subúrbios

Inexauríveis
os sonhos fedem
ante a nua ossatura
dos casebres
sitiando a cidade
e a sua enxuta
e antiquíssima idade

Os sonhos fedem
no aglomerado de pedras anónimas
acocoradas de desânimo
ante o jejum dos dias
e a fútil passagem dos meses

Os sonhos fedem à chuva
e eis-nos
de órbitas alagadas
sem saber o que fazer
da turva humidade
dos dias enclausurados
que com os sonhos
padecem fenecem…


José Luís Hopffer Almada
Cabo Verde