4.6.09

Concerto de “DJUNTA MON”


I


A dor encosta-se a mim
abraça-me forte
espalha-se pelo corpo
em glândulas de fome

Enfermo
declino o convite
para a grande festa da liberdade
Estou no meu tempo
no meu espaço
na minha tabanca
onde festa
não cabe
Grassa o choro
a doença
crianças morrendo
dia a dia
hora a hora!


II


Não…
Não vou a Berlim
ver o muro em pedaços
Viajo sim no olhar desesperado
do menino moçambicano
nicando a raiz seca
que desistiu de crescer
para morrer na boca pequena

Na África-tabanca
morre-se
aos pedaços
e
pedaços que não são saudades
da minha herdade
deixo-os fluir ao vento
até que a história
faça a contrição
do tempo madrasta

III


Mas se amanhã levantarem o cerco
que nos tolhe o sol
prometo
que
levarei os nossos cikós
os nossos tambores
os nossos djidius
e
com os vossos pianos e saxs
dançaremos na voz de Sinatra Pavaroti
Nina Simone e Milles Davies
no cume da estátua da liberdade

O batuque terá o sabor
das pedras ontem feitas muro
e de cada pedaço da vergonha caída
nascerá um tambor para o concerto
de djunta-mon!

Tony Tcheca (poeta guineense)