cerejas são luas ao poente
escondidas por entre sobreiros
vaidosos e antigos da andaluzia
as tardes de junho aproximam
as mãos e os frutos
delicados vermelhos e redondos
os teus lábios beijam cerejas
bebem-lhes o mel
e repudiam-lhes o centro
morre o amor
em cada árvore desgastada
pelo vento quente
os teus dedos enlaçados em mim
recordam beijos perdidos na planície.
partimos no alvoroço das primeiras estrelas
sinais de luz que o mundo
num instante moribundo
uivou
sou de roma português de andaluzia
santo-anjo retratado em frescos de capela
aragem quente estremenha
com algas rumores e maresia
estou deitado meu amor
não vês?
no meu corpo cerejas raras nascem
esperando as tuas mãos
os teus lábios entendidos
em frutos mágicos
no silêncio das encumeadas
Henrique Levy