Punhal na alma... pelas costas
Na vida das esquinas
encontrei esquinas
que me apontaram a vida
que, afinal, estava mesmo
ao dobrar da esquina.
Apesar disso chorei
quando senti o punhal
entrar-me pela alma
sem verter uma gota de sangue
porque esse jazia
sonolento num corpo perdido
na madrugada que anoitecia
sem se lembrar da poesia
que nascera décadas antes
nos córregos sinuosos
de uma saudade castigadora
bem mais lancinante
do que o punhal que me feriu
a alma e que, mais uma vez,
foi espetado pelas costas.
Orlando Castro (poeta angolano)