Cinco horas da manhã
São cinco horas da manhã
Para Maria pilando
Debaixo do cajueiro
E o noivo de Maria Colimando a machamba
E pensando no Transval.
São cinco horas da manhã
Para uma velha negra
Abanando o fogareiro
E assando maçaroca
Milho bom! Eh! Milho bom!
Numa voz desnecessária.
São cinco horas da manhã
No bazar de piripiri
Manga, coco e mulala
E tetas nuas vertendo
Leite tão branco e puro
Como o leite secretado
Por outras tetas mais púdicas.
São cinco horas da manhã
Nas cartas por escrever
Dos chibalos sonolentos
E nas mãos que dão à terra
A semente sem passado.
São cinco horas da manhã
No coração confiante
Das mulheres que pariram
E em versos de sangue e nervos
Que latejam o futuro.
Num canto livre e bravio
Das aves da minha terra
São cinco horas da manhã.
Mesmo com nuvens, espessas
Toldando a luz do sol
São cinco horas da manhã.
E até no desespero
De não aceitar o dia
São cinco horas da manhã
Da manhã que irrompe
Com alvorada ou não
Da noite de incubação.
São cinco horas da manhã
Do Rovuma à Ponta do Ouro
São, na coragem que temos
Para sabermos que são.
Orlando Mendes