Recordo-te no velho retrato da infância,
o cabelinho curto,
o olhar triste,
o sorriso terno.
Recordo, mais tarde,
tuas mãos de inocência
adormecidas sobre os meus cabelos
e teus lábios de ingénua frescura,
pousando na minha fronte
o beijo apetecido.
Sei hoje que escondeste bem fundo
dentro de ti
a menina do retrato
e os gestos que sabias.
Sei também que nossas vidas
agora correm
como duas rectas paralelas,
que nunca se encontram.
E que os geómetros digam
que no infinito elas se tocam,
não é para mim consolação:
Não chego ao infinito.
Fiquemos então assim:
Eu o cavalo melancólico
ruminando mágoas e silêncios
num gasto panorama bucólico
e tu sorrindo, sorrindo em sociedade,
mas, dentro de ti,
habitando inteira,
a menina do retrato.
Rui Knopfli