22.1.08

Alameda Vigiada

Quem me dera ser plâncton.
Ou ser como certas plantas,
permanecer indiferente
aos ventos
e aos sóis,
fazendo, sem os perigos do raciocínio,
a minha diária fotossíntese,
de que ignoraria o sabor.
Ou ser como as amibas
que se adaptam
e se desdobram, em sucessivas
mitoses,
em centenas de outras amibas
onde eu estaria autêntico,
ou não estaria autêntico.
Quem me dera passar desentendido
e não ser entendido,
átomo minúsculo na poeira eléctrica
da manhã,
ausente, bem ausente
deste coração
e desta carne
na sombra vigiada da alameda.


Ruy Knopfli