Cantando vai Ofélia pelo rio,
A caminho do nada - e não tem frio!
De flores coberta, ei-la morta de amor,
Olhos espelhando do céu o livor.
- Ofélia, ó triste, quem te segue empós?
- Um amor sobre-humano e um pai atroz…
- Cumpriste, não foi, teu dever de filha?
- E agora não sou mais do que uma ilha…
- De Hamlet a doideira acaso não temias?
- Doido por mim, fazia-me poesias…
O que mais temo, cá no outro mundo,
É o mano Laertes furibundo!
Tremo por Hamlet, meu Príncipe querido!
Temo Laertes, que é tão insofrido…
Eu não quero mais mortes, lá na Dinamarca.
Levo a minha a bordo - e não desembarca!
Assim se expressou, tristíssima, Ofélia,
Baixando a juzante, humanal camélia!
Alexandre O'Neill