ergue-te ó chuva
nos olhos das manhãs
inquietantes de deus
reflexo indecifrável
esculpido no tempo
estala entre
o imenso consolo
das nossas poderosas emoções
e o pavor que trazemos
aos gritos no crepúsculo
de ti debruçada
sobre os campos
sobre a fome
ergue-te
acende no olhar
a carícia das flores
encantada janela de deuses
voltada às estrelas
de onde caem nenúfares
camélias flores de papel...
sentes-te só
miraculosamente viva
corajosa recordas em silêncio
a piedade que resta
aos espíritos da água
misteriosos como pingos
preciosos cintilantes
na angústia humilde
da transformação
deixai falar a alma
transfigurada adormece a chuva
nos olhos inquietantes de deus
vulto cinzento de sombras
a tua valiosa máscara
esconde no nevoeiro pálido
o martírio a graça o corpo
de quem se despe de vida
ergue-te ó chuva
em gemidos
escavas e beijas as fontes
buscas os olhos de deus
indo sozinho anseia
em teus braços molhados adormecer...
redimido em
cristalinas lágrimas
onde navegaram
ensombrados os meus sonhos
de rir de cruzes de batalhas
és a sombra desenhada
pelas águas tuas
num jardim desfeito
de tanta ilusão incompleto
ergue-te ó chuva!
Henrique Levy