Não podes negar que bebeste leite
Da teta negra da mamã Ama
Tu mesmo o dizes
Teus lábios vermelhos
Como o sangue puro da mamã Ama
São quentes com palavras brandas
São a saudade da mamã Ama
Das brincadeiras antigas
Gajajeira e quintal de ripado
Sol nas casas de barro vermelho
Nós dois unidos em luta
Disputando o colo da mamã Ama
Nossas cabecinhas batendo
Nas tetas grandes da mamã Ama
Ela foi envelhecendo
Seus cabelos viraram brancura
Nós fomos crescendo
Do teu peito nasceram fontes de vida
Teus lábios ficaram mais cálidos
Minha menina branca por nebulosidade
Meu amor sem pecado
Meu peito também cresceu
Meu coração também cresceu
Amar-te?
Nego-me!
Agora seria desgostar a nossa mamã Ama
Seria fazê-la chorar lá no céu
Meu amor é pecado
Eu não sei a quem amo
A mamã Ama recomendou cuidado
Disse-nos que éramos irmãos
Minha branca de uma avó negra
Negra Isabel que faleceu desgostosa
Pela filha que não casou
Branca de um pai que se negou
Para mim
És aquela sempre menina bantu
— Minha irmã da infância
De olhos verdes de ternura
Boiando candidamente
Num corpo de nebulosidade nórdica
És a saudade da mamã Ama
Num corpo que faz lembrar
Um jardim de rosas brancas
Com toda a pureza de expressão bantu
Da nossa mamã Ama.
Tomaz Jorge
Angola
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