Neste norte gelado e branco
o horizonte torna-se um corpo velho
deitado sobre a terra adormecida.
Os pássaros escrevem a negro
o voo calado da fome
e os céus enchem-se de uma
linguagem tracejada e agressiva.
(…)
Sim, porque aqui o amor não
se enraiza com profundidade.
E encostado a superfície
de modo osmotico
repetindo-se com a insolência
tatuada no rosto da vaidade.
E e nestas terras brancas sem açúcar
onde os Deuses foram substituídos
pela intoxicação loura do malte,
que o meu tempo se vai desdobrando
sobre um mar molhado de silencio
e eu me vou tornando memoria antiga
sobre a paisagem cerzida
pela dor vitrea e brilhante
das lantejoulas do frio.
(inverno escandinavo II)
Andrea Paes
Moçambique
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