I
Os meus horizontes são fugazes
porque do arco-íris construídos
do escarlate e do azul
lilases se extinguindo
sob os céus da Cidade Velha
Também o vulto de Cristo
crucificado
entre a nudez da palavra
e a inanição da ribeira
II
a palavra.
a morte à cabeceira do sonho:
santiago ou nho nacho
oh! o insondável martírio
do verbo
entre as ervas das ribeiras
III
A bruma
húmida e só
cobre o dia
Um relâmpago
risca rápido
o meu coração
Uma ribeira
corre em catarata
na minha alma
A chuva cai
desvairada
sobre a apodrecida espiga
da minha boca
IV
A hidropisia da cidade
cobriu-se de fuligem
É agora a idade
dos grilos e de outros insectos
hílares como cítaras na noite
V
São deveras memoráveis
estes tempos setembrinos
A chuva
promíscua
dorme
com os políticos
um sono sem pesadelos
VI
Os vegetais
como as éguas
esganiçam
com as primeiras águas
VII
Recolhem-se as baga-bagas
às luzes da noite
Encolhemo-nos nós
mais os gafanhotos
na sombra dos dias
José Luís Hopffer Almada
Cabo Verde
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