Queda-se o corpo neste poema
Uma entrega, entrega-se toda
com um desígnio imenso da semente no núcleo da flor
despindo os versos um a um no centro deste poema
E onde o som nasce, cresce uma palavra devorando lentamente
as metáforas num gesto iniciado de luz e vida
Existe um tortuoso labirinto por entre as sílabas cheio de lustre
por onde brotam os rios e os lábios no mesmo momento de partida
Mas ama-las bem depressa, bem devagarinho deve ser o caminho
E a pontuação se eleva na subtileza dos versos,
da métrica, da rima no âmago do silêncio
E há um desejo insano de desfigurar a branca página,
Com cor do olhar que percorre intenso para o outro lado do espelho
onde o mundo acontece sua estrela bailante
E dentro das palavras há melodia,
dependurando-se sobre as arestas do verso
e dançando os murmúrios constantes do voo das aves
E o poema ganha rosto:
uma arvore cheia de cabelos ao vento como teias da aranha,
onde nos pés das raízes habitam os sarcófagos diversos no húmus da loucura
E onde as mãos de asas são janelas,
por onde as pupilas escancaram o mundo entre os dedos.
Tânia Tomé