Amor :
a manhã é uma densa juventude
e um caminho de esperança, recolhido.
Com brisas que antecedem os desejos
magoa as ténues águas dos nenúferes
onde os peixes gravitam suas cores.
As crianças brincam já a esta hora.
As suas vozes trocam de harmonia
e sobem, no meu peito iluminado.
O dia acorda o dia e, lentamente,
nos preparamos para envelhecer.
E assim, amor, eu mando-te notícias
sem vontade de ter outra morada
que não seja sorrir e estar contigo.
Passou, agora mesmo, ao rés da rua,
um esquife, vazio de pessoas,
queimando a dor em duas ou três rosas
- quase bonitas de tão pobrezinhas!
Além, um gato, expira nos esgotos
seu gesto melancólico de fome
e um homem - já cansado de ser homem,
encosta-se ao portão dum prédio novo.
É manhã. Um ar lavado e fresco
entorna-se nos rostos apressados
como se a dor não existisse mais.
Que sons, os da cidade, meu amor!
Vasco de Lima Couto