Três de frente
por muitos de fundo.
Dois de farda
por um de luto,
merramaques tristes
da tribuna crepuscular.
Tu dizes que vistes
lobos no povoado.
Na teia estão cães
de olhar bíblico
e feridas supuradas.
Rafeiros da fome,
podengos da esperança.
Tu invertes o polegar,
césar de opereta
e dizes que viste
lobos no povoado.
Os lobos são outros,
os lobos são outros,
estes, não.
Rui Knopfli nasceu em Inhambane, em 1932 e viveu em Moçambique até 1975. Foi delegado de propaganda médica, poeta, crítico literário e de cinema. Opositor do regime colonialista, colaborou activamente na imprensa independente, casos de A Tribuna e A Voz de Moçambique. Lançou, com João Pedro Grabato Dias, os cadernos de poesia Caliban (1971-72). Demite-se do jornal A Tribuna, por objecções de natureza ética, e deixa Moçambique em Março de 1975. Em Julho do mesmo ano radica-se em Londres onde exerceu o cargo de conselheiro de imprensa (1975-97) junto da Embaixada de Portugal na capital britânica.
A sua obra é fortemente influenciada pelas suas vivências europeias e africanas, revelando uma forte originalidade e um tom eminentemente coloquial. Morreu em Lisboa em 1998.