Se uma fonte jorrasse da minha boca
a saciar a memória das sedes terrestres,
uma arvore erguendo a lentidão dos seus braços
no ar, no céu sarado pela luz, um feixe
de mãos gesticulando contra o vento
a placidez de uma vida intocável.
Pudesse a sua sombra ser uma despedida
guiando os passos de quem deserta com o dia,
a cabeça deitada por terra, vendo passar
no alto a cabeleira de uma nuvem sobre a vastidão
dos campos que se perdem em núpcias com a distancia.
Saborear o ar que nos sopra como uma lembrança
sobre o flanco das colinas, ele que, ao levar consigo
um adereço de imagens, colhe no voo uma espiga,
a sua germinação breve na agua fértil da boca.
Palavras para descrever a noite infusa entre as mãos,
a vocação do que brilha no alto e se espelha,
o açafate da lua, na lira muda da folhagem.
Queriam ver-te dobrada para o solo, olhos fechados,
cruzamento de ramos sob o metal branco da luz,
no gesto inútil que faz ao cair uma folha fanada.
Porque o teu destino é cair, sacudindo o corpo
como quem treme de medo, de frio, ou faz uma adeus,
sabendo que trazes em ti a tua morte, a sede
que vai haurindo em baixo, sem descendência
ou cadastro de bens senhorias, as raízes do teu ser.
Paulo Teixeira