Havia as fogueiras e a dança das raparigas
e o verão era um círculo luminoso
no centro do qual o canto todo se movia
como um pássaro ou um fruto
e que ninguém se atrevesse a dizer-me
que não podia ser aquilo a felicidade
com os seus outros nomes e rostos,
com as suas corolas incendiadas
e os seus aromas quentes fugidios.
A infância enchia as casas
com a tinta fresca dos risos e dos jogos
e era como se pintasse as paredes
como o azul limpo da festa irrepetível.
E eu acocorado num canto a contar as horas
que faltavam para setembro ser outono
e para a noite, a dos perturbantes achados,
manchar o soalho com a tinta morna dos temores.
José Jorge Letria