É assim esgravatada e repilhada
Até aos limites do seu interior
Por gente nossa e despudorada
Quando a pátria que é nossa
É assim regateada ao preço da gula
E ganância, por gente que jurou
Defendê-la com bravura e valentia
Quando a pátria que é nossa
É assim extorquida e ameaçada
Por gente sem dó e auto-esconjurada
Que não olha a meios senão a fins
Quando a pátria que é nossa
É assim leiloada em praças obscuras
À taxa diária do sangue, suor e lágrimas
De milhões de braços, e uma só força
Por gente ilustre e de colarinho branco
Quando a pátria que é nossa
É assim assaltada pelos flancos da sua
Beleza e contornos da sua geografia
Por gente forasteira de si própria
Quando a pátria que é nossa
É assim deixada à deriva e ao relento
E à mercê dos párias do nosso maior
Descontentamento colectivo
Quando a pátria que é nossa
É assim atraiçoada por essa gente sem
Nome, que se aliança com mercadores
De insónias e arautos do caos e do mal
Em troca do fútil e do asco
Todo silêncio e todo exílio serão
Sempre iguais a pátria que é nossa!
Armando Artur