Apetece-me correr. Correr, num grito desvairado.
Assustar medos.
Não parar. Castigar o corpo. Martirizá-lo, até à exaustão.
Apetece-me correr, correr, correr...
acabaria num choro, prostrada no chão. Sem forças.
Cada passada seria um grito mudo... porque me apetece gritar.
Cada passada seria um desabafo... porque me apetece desabafar.
Deste fogo... que não consigo apagar.
Tu. Que me queimas.
Importa se não é o que queres?! É o que sinto.
Como esta vontade enorme de gritar.
A noite não me traz a calma do sono.
O descanso dos pensamentos.
A noite nada me traz a não ser eu mesma... outra vez!
Num corrupio de ideias sem nexo. Electrizantes.
Uma mistura de frases incompreensíveis. Como tu!
Um desassossego que acabaria no fundo de um abismo.
Numa opção de paz eterna.
Eu corro. Desmedidamente, desvairadamente, ofegantemente, exaustivamente, loucamente, arrebatadamente... para calar os gritos.
E não calo!
O nó que trago na garganta não se desaperta. Prende-se, a cada grito. Mais!
Afogo-me no ar que respiro. Sufoco no excesso de luz que me persegue.
Apetece-me correr. Correr, correr, correr... apetece-me não parar até o meu corpo rebentar...
Luísa Azevedo