Este nosso país
Dentro das cinzas ainda quentes
ardem pequenos lumes na calma subjectiva da noite.
Não se apagou a fogueira por sono dos homens
mas porque da unidade conhecida partem caminhos
abertos aos passos para o preciso destino. A lembrança daí
e das revoltas cilindradas junta forças no punho das armas.
E quando rebentam disparos na surpresa da opressão
há sangue vivo nas veias inchadas para derramar
pelo sacrifício previsto. São poucos mas destros
os braços que dizem a razão dos feridos rasgos
de milhões de corpos acorrentados. São largos silêncios
translúcidos e tensos avançando palavras mínimas suficientes
em resposta fértil aos gritos da esperança humilhada
calados na verdade ressequida que pranto escondido
pode fazer subir das raízes a seiva de florir.
Passa o tempo bárbaro corroído entre a essência do combate
e a retaguarda cumprindo a sua vontade clandestina
e a tortura sofrida que destrói lábios selados na recusa.
Olhos mãos baionetas fúrias brutas violam sistematicamente
a inocência de crianças e a fertilidade dos ventres maternos
de um Povo negado. O cultivo de algodão para fábricas de fora
onde o irmão operário ignora o mísero camponês que o semeia
permanente curvatura de dorsos acumulando trabalho forçado
e riqueza de bancas multinacionais que paga genocídios
e altos exercícios logísticos e polícias secretas competentes.
A cultura original afeiçoada pelo riso lúbrico burguês
e pela tactura de gordos dedos do turismo financeiro.
Das esteiras fome doença letargo decretadas preguiça
erguidas à ordem-chicote de ficarem solenemente de pé
para cantarem hinos ao poder da ocupação estrangeira
filtrados através do não inútil ódio de gargantas secas.
No heroísmo de tudo atrás e agora e adiante a vibrátil
certeza de vitória consciente. E o fim completo conseguido
para quinhentos anos de morte e revivência. A grandeza do Povo
crescendo igual nas duras conquistas revolucionárias
que aprendemos com a luta das frentes. Este nosso País.
Orlando Mendes