17.2.10

Pas-de-deux



Meus olhos de Lisboa no teu corpo
são bailarinas só, num imprevisto.
- Desprezo o vício de fazer-te os versos.

É sem pensar que resisto!

Um verso que se escreve é para ser visto,
se à força de ser verso for bailado.

Falar por te falar, só incomodo,
não deixo à fantasia ter discurso.

O meu saber de ti é complicado,
teu corpo é mais feliz a bailar todo.

Eis o que digo para dizer ser dito
bailando, meu amor, porque acredito
na forma do teu corpo, que é meu espaço
de bailarinas só, num imprevisto
dos versos sem pensar em que resisto
aos mesmos sempre versos que te faço.

Não há remorsos já para o teu cansaço,
- em cada um de nós há seu percurso.

Falar-te assim de ti, só incomodo,
este louvar-te é arte - em que persisto.

Teu corpo permanece a bailar todo.


Carlos Garcia de Castro