Não tenhas medo de confessar que me sugaste o sangue
e engravataste chagas no meu corpo
e me tiraste o mar do peixe e o sal do mar
e a água pura e a terra boa
e levantaste a cruz contra os meus deuses
e me calaste nas palavras que eu pensava.
Não tenhas medo de confessar que te inventaste mau
nas torturas em milhões de mim
e que me davas só o chão que recusavas
e o fruto que te amargava
e o trabalho que não querias
e menos da metado do alfabeto.
Não tenhas medo de confessar o esforço
de silenciar os meus batuques
e de apagar as queimadas e as fogueiras
e desvendar os segredos e os mistérios
e desrruir todos os meus jogos
e também os cantares dos meus avós.
Não tenhas medo, amigo, que não te odeio.
Foi essa a minha história e a tua história.
e eu sobrevivi
para construir estradas e cidades a teu lado
e inventar fábricas e Ciência,
que o mundo não pode ser feito só por ti.
Fernando Sylvan
in A Voz Fagueira de Oan Timor
in A Voz Fagueira de Oan Timor