2.3.08


Relíquia


Era de minha mãe: é um pobre xale,

Que tem p’ra mim uma carícia de asa.
Vou-lhe pedir ainda que me fale
da que ele agasalhou em nossa casa.


Na sua trama, já puída e lassa,
Deixo os meus dedos p’ra senti-la ainda;
E Ela vem, é Ela que me abraça,
Fala de coisas que a saudade alinda.


É a minha mãe mais perto, mais pertinho,
Que eu sinto quando toco o velho xale,
Que guarda não sei quê do seu carinho.


E quando a vida mais me dói, no escuro,
Sinto ao tocá-la como alguém que embale
E beije a minha sede de amor puro.


António Patrício