caminho longe
ladeira de São Tomé
Não devia ter sangue
Não devia, mas tem.
Parados os olhos se esfumam
no fumo da chaminé.
Devia sorrir de outro modo
o Cristo que vai de pé.
E as bocas reservam fechadas
a dor para mais além
Antigas vozes pressagas
no mastro que vai e vem.
Caminho
caminho longe
ladeira de São Tomé
Devia ser de regresso
devia ser e não é.
Única dádiva
Os engajadores levaram
a nossa única dádiva
e já ninguém devolve
o que nos foi roubado.
Longa è a ladeira que a fome alonga.
Enquanto eu vivo
as perguntas duram
E eu vivo da fome
interrogativamente.
Longa è a ladeira que a fome alonga.
Como podem ladrões
rondar meus olhos
se amor só
meus olhos tem?
Longa è a ladeira que a fome alonga
terra longinquamente.
Gabriel Mariano (poeta caboverdiano)