26.3.08


Caminho longe


Caminho
caminho longe
ladeira de São Tomé
Não devia ter sangue
Não devia, mas tem.

Parados os olhos se esfumam
no fumo da chaminé.
Devia sorrir de outro modo
o Cristo que vai de pé.

E as bocas reservam fechadas
a dor para mais além
Antigas vozes pressagas
no mastro que vai e vem.

Caminho
caminho longe
ladeira de São Tomé
Devia ser de regresso
devia ser e não é.
Única dádiva

Os engajadores levaram
a nossa única dádiva
e já ninguém devolve
o que nos foi roubado.

Longa è a ladeira que a fome alonga.

Enquanto eu vivo
as perguntas duram
E eu vivo da fome
interrogativamente.

Longa è a ladeira que a fome alonga.

Como podem ladrões
rondar meus olhos
se amor só
meus olhos tem?

Longa è a ladeira que a fome alonga
terra longinquamente.


Gabriel Mariano (poeta caboverdiano)