Roça
A noite sangra
no mato,
ferida por uma aguda lança
de cólera.
A madrugada sangra
de outro modo:
é o sino de alvorada
que desperta o terreiro.
É o feitor que começa
a destinar as tarefas
para mais um dia de trabalho.
A manhã sangra ainda:
salsa a bananeira
com um machim de prata;
capinas o mato
com um machim de raiva;
abres o côco
com um machim de esperança;
cortas o cacho de andim
com um machim de certeza.
E á tarde regressas
á sanzala;
a noite esculpe
os seus lábios frios
na tua pele.
E sonhas na distância
uma vida mais livre,
que o teu gesto
há-de realizar.
Maria Manuela Margarido (poetisa sãotomense)