Mirante
Deixo passar os olhos na paisagem
Enquanto a flauta exalta o bucolismo;
Por sobre cada abismo,
Onde a luz mergulhou e se perdeu,
Lanço discretamente
Uma ponte de angústia levadiça;
Tolho de macicez e de preguiça
A força temerosa dos penedos;
Teço castos enredos
À volta de corolas sensuais;
E na tarde sincera dos zagais
Sinceros,
Mudos e austeros
Entre os matagais,
Assim fico a mentir e a sofismar
A música da vida, que não sei tocar...
Miguel Torga