8.3.09

Vem contar-me o teu destino, irmão





Vem contar-me o teu destino, irmão.
Vem apontar-me no teu corpo
as revoltas
que o inimigo plantou.

Vem dizer-me: «Aqui
as minhas mãos foram esmagadas
porque defenderam a terra
que lhes pertencia.

«Aqui o meu corpo foi torturado
porque recusou curvar-se
ao invasor.

«Aqui a minha boca foi ferida
porque ousou cantar
a liberdade do meu povo.»

Vem contar-me o teu destino, irmão.
Vem dizer-me os sonhos de revolta
que tu e teus pais e teus avós
alimentaram
em silêncio
em noites sem sombras
próprias para amar.

Vem dizer-me esses sonhos feitos
guerra,
os heróis que já nasceram,
a terra reconquistada,
as mãos que enviaram
sem tremer
os seus filhos para a luta.

Vem contar-me tudo isto, irmão.
Eu depois vou construir palavras simples
Que mesmo as crianças compreendam,
que entrem em todas as casas como o vento,
que caiam como brasas
na alma do nosso povo.

Na nossa terra
as balas começam a florir.

Jorge Rebelo
Moçambique