19.3.09

Para um velho rapsodo



Canta, Muringana, canta,
na noite comprida do Chamanculo:
Ai, o Xivito que eu tenho,
a minha impala não veio hoje beber.
Kina, Kina, Kina
W psala nwana, Muringana,
W psala nwana!
A muchem te roeu o coração
e fez dele um monte de areia seca,
uma casa na solidão.
Kina, Kina até ao cansaço,
à copa das árvores até às raízes.
Bailando voas, bailando te afundas,
o chão dos mais engeitas.
Nesse ventre de homem um filho se gerou
- é o Xivito que te aperta o peito,
rouba o fôlego e entontece.
Ê - lê - lê - lê! Faz tremer o chão
Com raiva e os pés.
Chocalha esses guizos dos artelhos,
iradamente dança, ê - lê - lê - lê!
A azagaia da morte não te apanhará desprevenido.
Quando a Grande Caçadora por ti vier,
tu, em pleno salto,
morrerás no ar como so pássaros mais altivos,
Muringana, Muringana.


Fonseca Amaral
Moçambique