4.3.09

Povo adormecido



Há chuvas
que o meu povo não canta
Há chuvas
que o meu povo não ri

Perdeu a alma
na parede alta do macaréu

Fala calado
e canta magoado

Vinga-se no tambor
na palma e no caju
mas o ritmo não sai

Dobra-se sob o sikó
como o guerreiro vergado
cala o sofrimento no peito

O meu povo
chora no canto
canta no choro
e fala na garganta do bombolon

Grei silêncio
quebrado
nas gargalhadas de Kussilintra
em quedas de água
moldando pedras
esfriando corpos
esculpidos
no corpo do bissilão.

Tony Tcheca (poeta guineense)