1.5.08


A Dama e o Jogral



Proscrito na pátria, saborosa ironia!,
a mim coube o destino de cantar-te
na toada monótona deste áspero bordão.
Vários foram os que, por elaborados
contratos ou vantajosas conveniências
de família, te esposaram em uniões
burocraticamente consumadas e te expuseram
a seu lado na pompa solene
dos cerimoniais para os três Estados.
Por seu braço desceste aos jardins,
às praças, aos garridos festins do povo,
com dignidade inerente à tua posição
presidiste, na gala de tuas melhores roupagens,
a inaugurações, actos públicos e religiosos
e, sozinha, meditaste reclinada junto
à babugem da areia. Mas a alegria
maior, a mais íntima, guardava-la sempre
para a mirada terna que nunca deixámos
de trocar. Ensina-o uma velha sabedoria:
enquanto dorme o castelão, penetra
o jogral humilde na alcova da princesa.


Rui Knopfli