1
Feliz era nudez. Vinha diurna
de dentro de si mesma. Porque o dia
ressumbrava recente desde a sua
novidade de pasmo. E de pupila
apta à evidência. E, por isso, arguta,
sem deduzir-se duma argúcia activa.
Onde fossem seus passos a espessura
entregava o seu fervor de enigma
para, depois, se recolher. Ter junta
e pronta a ordem de nova epifania.
Era a nudez da inteligência. Abrupta
e, ao mesmo tempo, de precisão tão íntima
que até os recantos justos da penumbra
recrutavam a luz da perspectiva.
2
E, além de feliz, era a nudez
encontro de surpresa e de substracto
– dentro palpites de sinais, e até
intento a consumar o corpo, em estado
de o espírito iluminar a tez
que também se enriquece à luz do tacto.
Ou a surpresa é dar-se o estar a ser
com o dentro a difundir o seu espaço
num paraíso de animais que vêm
ao encontro de serem nomeados.
3
E tudo encontra na evidência o nome.
A recente nudez da novidade
traz o enigma do que vem de longe
sem reserva qualquer nele entregar-se.
Ou cada coisa do seu dentro rompe
perpetuamente àquele feliz instante
em que estarem a vê-lo lhe recolhe
estar a ser. Com todo o ser em fase.
4
E, enfim, era a nudez corpo visível
onde, invisível, se ajustava o acto
de olhar. Não para enclausurar limites,
ou reduzir o que se estava dando.
A nudez recrudescia. A abrir-se
com a frequência a exceder o impacto
da visibilidade. E assim o timbre
da sua luz estimulava o ângulo
que a sagrava num espaço inextinguível.
E tinha o pulso de lugar sagrado.
Fernando Echavarria (poeta timorense)