25.2.08

Memória


À Minha Mãe

Ao meu Pai


Aquele que partiu no brigue Boa Nova
E na barca Oliveira, anos depois, voltou;
Aquele santo (que é velhinho e já corcova)
Uma vez, uma vez, linda menina amou:

Tempos depois, por uma certa lua nova,
Nasci eu… O velhinho ainda cá ficou,
Mas ela disse: - «Vou, ali adiante, à Cova,
António, e volto já…» - e ainda não voltou!

António é vosso. Tomai lá a vossa obra!
«Só» é o poeta-nato, o lua, o santo, a cobra!
Trouxe-o dum ventre: não fiz mais do que o escrever…

Lede-o e vereis surgir do poente havidas mágoas,
Como quem vê o Sol sumir-se, pelas águas,
E sobe os alcantis para o tornar a ver!


António Nobre